segunda-feira, 14 de maio de 2012

O consumidor e o superendividamento

O consumidor e o superendividamento

 

Em geral, sabemos quando, como e onde reclamar, caso haja lesão ou ameaça de lesão a nossos direitos numa relação de consumo. Todavia, não temos – ao menos, ainda não – educação financeira para o consumo.

Já faz algum tempo que o Brasil apresenta um crescimento econômico significativo. Com o início do Plano Real, aos poucos, a inflação galopante foi diminuindo e hoje o Brasil ocupa uma posição de destaque na economia mundial, com o 6° maior PIB mundial – em que pese ocupar a lamentável 84° posição em IDH (índice de desenvolvimento humano).

Os reflexos desse crescimento econômico são, dentre outros, a facilitação do crédito e o aumento do consumo. Fatores como a abertura de mercado, iniciada antes mesmo do advento do Plano Real, e a facilitação do crédito geraram um aumento significativo do consumo. Junte isso aos subsídios concedidos sazonalmente pelo Governo em determinados produtos e o aumento da renda, com a consequente ascensão das classes e voilá! Mais aumento no consumo.

Tudo isso é muito vantajoso e desejável, pois faz o país crescer, gera empregos, aumenta a renda da população e proporciona acesso a produtos e serviços. Entretanto, nessa receita mágica falta um ingrediente essencial e que, sem ele, a mistura desanda: a educação para o consumo. Nós, brasileiros, temos muito mais consciência de nossos direitos do que há duas décadas. Em geral, sabemos quando, como e onde reclamar, caso haja lesão ou ameaça de lesão a nossos direitos numa relação de consumo. Todavia, não temos – ao menos, ainda não – educação financeira para o consumo.

Normalmente, o crédito fascina. Temos acesso a bens e serviços relativamente caros, muitas vezes impossíveis de serem pagos à vista, mas que “em suaves prestações” nos são acessíveis. Por conta disso, muitas vezes compramos bens que estão muito acima de nossas condições ou de nosso padrão de vida, pois nos são acessíveis por meio do crédito – facílimo, aliás.

Vejamos um exemplo: a aquisição de um veículo que custa R$ 80.000,00. Dificilmente um consumidor terá este valor disponível para a aquisição desse veículo à vista – ou se tivesse não poderia gastar com isso, pois teria outras prioridades. No entanto, este consumidor dispõe de R$ 30.000,00, valor que seria suficiente para a compra de um veículo popular. Porém, diante da perspectiva de crédito, o consumidor poderá adquirir o veículo que custa R$ 80.000,00 com uma entrada de R$ 30.000,00, financiando os R$ 50.000,00 restantes, pagando 60 parcelas de R$ 1.600,00. O raciocínio que o consumidor faz é: “a parcela cabe em meu bolso?”. Se a resposta for positiva, o consumidor fechará o negócio. Porém, não fará outra pergunta básica: “quanto esse carro custará para mim no final?” Se somar as parcelas, pagará R$ 96.000,00 pelo financiamento, mais os R$ 30.000,00 que deu como entrada. O carro ao final custará R$ 126.000,00, lembrando que já terá se depreciado em 05 anos.

Além disso, esse consumidor tende a financiar e parcelar todas as suas compras: parcelas sem juros e utilização do rotativo no cartão de crédito, uso do cheque especial, empréstimos bancários. Todas essas parcelas separadamente cabem em seu orçamento, porém se somadas, muitas vezes ultrapassam os seus rendimentos mensais. Isso sem contar as despesas fixas mensais desse consumidor, como alimentação, moradia, transporte, vestuário, educação etc. Esta aí a fórmula do superendividamento.

Ao chegar nesse estágio, o consumidor não consegue pagar todas as suas dívidas, refinancia o cartão de crédito, passa a utilizar constantemente o limite do cheque especial e acaba tendo o seu nome incluído nos cadastros de maus pagadores – afinal, ele não conseguiu honrar suas dívidas.

Para evitar que isso aconteça, o consumidor deve ficar atento ao orçamento. Calcular todas as despesas fixas mensais é um bom começo para colocar o orçamento em ordem. Ao saber o quanto gasta mensalmente com essas despesas, o consumidor tem a real noção do que pode dispor de seu salário. Uma boa prática é se programar para guardar ao menos 10% dos rendimentos mensais. Se o consumidor estiver com o orçamento em ordem e se disciplinar, isso é perfeitamente possível. Haverá uma reserva que poderá ser utilizada em situações de emergência, inclusive.

Conhecendo o seu orçamento, o consumidor poderá mapear seus gastos e planejar melhor suas aquisições. Poderá até comprar aquele carro que custa R$ 80.000,00, desde que verifique muito bem a taxa de juros, pesquise o banco que lhe concede a menor taxa – e lhe informa corretamente o custo efetivo total do financiamento, obrigação do banco e direito do consumidor – e financie um valor menor e em menos tempo. Afinal, o consumo não é pecado, mas o consumo sem consciência é um atentado violento ao bolso. E, como dizem, dinheiro não aceita desaforo!

http://aeradodialogo.com.br/ultimas/436-o-consumidor-e-o-superendividamento

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